Planeta tem 422 árvores para cada habitante, diz estudo

Um time de pesquisadores da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, acaba de concluir um estudo que mostra que o mundo tem 3 trilhões de árvores, ou seja, cerca de 422 para cada ser humano. A pesquisa, publicada na revista “Nature”, foi feita usando uma combinação de imagens em satélite, inventários de florestas e tecnologia e atualiza os dados sobre árvores que existiam até agora.

A única estimativa global que se conhecia dava conta de que o planeta tinha 400 bilhões de árvores, o que dava em média 61 para cada habitante. Por outro lado, há evidências de que o número total de árvores tenha caído em cerca de 46% desde o início da civilização humana.

Os dados dessa pesquisa são a chance de se ter, agora com provas reais, o impacto das atividades humanas sobre as árvores. Thomas Crowther, membro do pós-doutorado da Escola Yale de Florestas e Estudos Ambientais e coordenador do estudo, lembrou que, apesar de as árvores estarem entre os organismos mais importantes e críticos sobre a Terra, só recentemente se compreendeu a sua extensão e distribuição global.

“Elas armazenam grandes quantidades de carbono, são essenciais para o ciclo de nutrientes, de água e qualidade do ar, além de serem importantes para inúmeros serviços essenciais à humanidade. No entanto, se você perguntar às pessoas para estimar, dentro de uma ordem de magnitude, quantas árvores existem, elas não sabem nem por onde começar a contagem”, disse ele.

Os pesquisadores encontraram as maiores densidades de árvores nas florestas boreais, nas regiões subárticas da Rússia, Escandinávia e América do Norte. Mas é nos trópicos, como já se imaginava, que ficam as maiores áreas florestais: 43% das árvores do mundo.

Foi descoberto também que o clima pode ajudar a prever a densidade de árvores na maioria dos biomas. As zonas mais úmidas, por exemplo, são ideais para o crescimento delas. No entanto, os efeitos positivos da umidade não aconteceram em algumas regiões porque os humanos também preferem as áreas úmidas e produtivas para a agricultura. Nessa briga secular entre homem e natureza, a última perde de goleada.

Na verdade, a atividade humana é que determina o número de árvores em todo o mundo, disse Crowther.  O estudo destaca de que maneira as decisões de uso da terra moldaram, historicamente, os ecossistemas naturais em uma escala global. E nem sempre deram resultados financeiros.  Em resumo: o desmatamento, a mudança no uso da terra e o manejo florestal são responsáveis, ainda hoje, por um prejuízo bruto de mais de 15 bilhões de árvores a cada ano.

Aqui no Brasil, segundo um estudo divulgado ontem pela ONG Observatório do Clima (OC) (leia aqui) , o número de alertas de desmatamento na Amazônia subiu 68% entre agosto de 2014 e julho de 2015 em relação ao mesmo período entre 2013 e 2014. Somando-se o desmatamento – quando há corte raso na vegetação – e a degradação, o índice de 5.121km² de floresta destruída é o maior em seis anos, diz a análise realizada pela OC. Mato Grosso foi o estado com o maior número de alertas, somando 1.815 Km2, o equivalente a 35% do total. No Pará, foram 1.535 Km2, 29,8% do total, e em Rondônia, 769 Km2.

Mas outra pesquisa, realizada por especialistas da PUC-Rio em parceria com o instituto internacional Climate Policy Initiative e publicada no dia 17 de agosto (leia aqui) mostrou que conter o desmatamento pode ser uma tarefa bem mais difícil do que se imagina. O desafio do país, depois de conseguir coibir o corte de árvores em cerca de 80% entre 2003 e 2012, agora é tentar descobrir e reduzir o desmate em pequenas escalas, que já alcança 50% de todo o desmatamento registrado atualmente.

De acordo com Juliano Assunção, professor da PUC-Rio, um dos autores do estudo e diretor do núcleo de avaliação de políticas climáticas da universidade, os resultados mostram que houve uma mudança na natureza do fenômeno do desmatamento da Amazônia.

“O monitoramento do desmatamento feito pelo sistema Deter, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), ajudou a reduzir drasticamente a devastação a partir de 2004. Mas, quando olhamos em detalhe, vemos que o que caiu foi o desmatamento de larga escala, em áreas acima de 25 hectares. O desmatamento em áreas menores permanece em alta, com flutuações”, disse ele.

Consequência direta desse tipo de crime? A seca. Aqui no Brasil já estamos vivendo uma crise hídrica que vai aumentando ano a ano e agora alcança também a região Sudeste. Nos Estados Unidos, segundo uma reportagem na própria revista “Nature”, a California está vivendo sua pior seca desde 2012. As temperaturas estão batendo recordes históricos, o que impacta de maneira bem negativa não só os humanos mas as florestas, a biodiversidade e a economia da região. Só no ano passado já há registro de perdas de US$ 2,2 bilhões, pois  o estado é conhecido por ser um terreno fértil para frutas, vegetais e oleaginosas, que dependem de muita água. E 17 mil californianos estão fora do mercado de trabalho por conta disso, aumentando assim as estatísticas de desemprego globalmente.

Só para fazer um link com o estudo divulgado pela Yale, no Estado da Califórnia computaram a morte de mais de 12 milhões de árvores.

Sem cair no catastrofismo, mas fazendo a ligação necessária entre o corte de árvores e os fenômenos extremos, ontem (1) a Organização Meteorológica Mundial (OMM) anunciou (leia aqui) que o El Niño este ano será ainda mais forte. Vai atingir seu pico entre outubro e janeiro. São ventos que esquentam as águas do Oceano Pacífico trazendo mais chuvas para a região Sul do Brasil e muito calor para o Sudeste e Centro Oeste, além de mexer com o clima do mundo inteiro. O último El Niño tão forte aconteceu em 1998, quando as águas se aqueceram em 5 graus. Hoje elas já estão 4 graus mais quentes.

O que não se pode dizer é que a ligação entre desmatamento, seca e aquecimento global seja algo novo para a humanidade. Em fevereiro de 1979, a Organização Meteorológica Mundial concluiu em sua “Declaração da Conferência sobre o Clima” que “parece plausível que o contínuo aumento do dióxido de carbono na atmosfera pode contribuir para o aquecimento gradual… é possível que alguns efeitos em escala regional e global possam ser detectados antes do fim deste século e se tornem significantes antes da metade do próximo século”*.

Em junho de 1988, o então presidente do Instituto da Nasa para Estudos Espaciais, James Hansen, deu um depoimento sobre o senso de urgência que a questão merece. Diante do comitê de Energia e Recursos Naturais do Senado norte-americano, ele foi categórico ao afirmar que o aquecimento global não é um fenômeno natural:

“É tempo de parar de jogar conversa fora e dizer que já existem fortes evidências sobre a existência do efeito estufa”, disse ele.

De lá para cá, com a criação do Intergovernmental Panel on Climate Change (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, na sigla em inglês) nos anos 80, os estudos e pesquisas sobre o assunto ficaram cada vez mais potentes e minuciosos. O estudo feito pelo Yale sobre as árvores é um exemplo disso.  Algumas ações foram tomadas para tentar minimizar o problema, mas o tema ainda não está na agenda política, o que dificulta muita coisa.

Resta saber se quando se reunirem em dezembro na França para a vigésima primeira Conferência das Partes sobre o Clima, os 193 líderes mundiais vão seguir, finalmente, o conselho de Hansen. E tomar atitudes mais eficazes.

*Dados do “State of the World 2015”, publicado pela organização The Worldwatch Institute

Share this post

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *

Você pode usar estas tags e atributos de HTML: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>