BENEFÍCIOS DA ATIVIDADE FLORESTAL PARA O PRODUTOR RURAL

A exploração comercial do reflorestamento pode ser uma atividade bastante produtiva para o produtor rural, que vem adotando com freqüência esta prática na Zona da Mata mineira. Em determinadas situações (condições do terreno, por exemplo) pode ser mais lucrativa que muitas culturas. Neste artigo, os autores apresentam detalhes sobre a atividade, além da comparação do lucro com outros cultivos.

As florestas têm importância para o homem desde a Pré-história. No início, elas eram fontes de alimento e de caça, e a madeira, como lenha, cabo de ferramentas ou de armas. Com o passar do tempo, o homem começou a descobrir novas utilidades para os recursos que a floresta lhe oferecia: utensílios domésticos, construções, veículos, etc.

Atualmente, plantar árvores se tornou uma alternativa muito interessante não só para melhorar a propriedade, como também para aumentar a renda do produtor. Isso porque as florestas exigem pouca mão-de-obra, têm muita utilidade no sítio ou fazenda; ajudam ainda na melhoria do visual e valorizam a propriedade. O reflorestamento é uma atividade lucrativa, porque funciona como uma “caderneta de poupança verde”, que pode virar dinheiro quando o proprietário precisar.

Além das condições naturais muito favoráveis, o Brasil possui excedentes de mão-de-obra no meio rural, bem como considerável domínio tecnológico das atividades ligadas à formação de florestas, processamento e utilização da madeira.

Utilidades para a propriedade

Uma propriedade rural é auto-suficiente em muitos recursos. Até pouco tempo atrás, por exemplo, não eram raros os casos em que o produtor rural se dizia orgulhoso de comprar na cidade apenas o sal, o querosene e o macarrão; o restante de suas necessidades para subsistência era tirado da propriedade:

Lenha: é bastante comum,em cidades do interior e na zona rural, seu uso como fonte de energia para a produção de alimentos. Alguns tipos de indústria rurais também utilizam este recurso, como as cerâmicas. Para este caso, na maioria das regiões brasileiras, a produção só é permitida a partir de florestas plantadas, já que o produto será comercializado.

Mourões: usado na construção de cercas para demarcação de propriedades, delimitação de áreas agrícolas e de pastagens, etc. Em grande parte, a produção é proveniente de processos extrativistas, que não contemplam a reposição ou manejo dos maciços de onde foram retirados. Portanto, uma alternativa é a produção de mourões a partir de florestas plantadas com espécies de rápido crescimento, utilizando-se processos de tratamento para aumentar a sua durabilidade.

Currais: uma forma eficiente e barata de se construir este tipo de benfeitoria é usando materiais obtidos dentro da própria fazenda.

Construções cobertas: a madeira satisfaz as necessidades estruturais, de maneira eficiente e barata.

Ferramentas: por sua resistência e peso compatíveis com os trabalhos braçais, é o material apropriado para esta finalidade.

Veículos e acessórios rurais: carros de boi, cabeçalho, cheda, cocão, chumacho, guiada-de-ferrão, charrete.

Diversos: móveis, suporte para construções, utensílios, molduras, objetos decorativos, veículos e embarcações, ferramentas,embalagens, palitos, tonéis, material escolar, instrumentos musicais, papel e carvão vegetal.

Além desses, existem também os produtos florestais não-madeireiros:

Folhas, frutos, sementes, raízes e casca: essas partes das árvores de espécies florestais podem ser usadas na produção de alimentos, cosméticos, especiarias, medicamentos, objetos decorativos, corantes, etc.

Óleos essenciais: são geralmente extraídos das folhas, utilizados na produção de cosméticos, perfumes, materiais de limpeza, etc.

Resinas: são normalmente extraídas de espécies de coníferas para a produção de colas, tintas, vernizes, corantes, breu, etc.

Vantagens do reflorestamento

As espécies utilizadas geralmente são de rápido crescimento;

Fonte alternativa de matéria-prima para a propriedade a baixo custo;

Fonte de renda para a propriedade;

Produtos comerciais de boa qualidade;

Muitas espécies comportam-se bem em sistemas de consórcio;

Exigência nutricional semelhante às culturas agrícolas tradicionais;

Menos burocracia para autorizar a exploração;

Captura de CO2;

Menor impacto ambiental ao solo do que as culturas tradicionais;

Aproveitamento de áreas marginais;

Pode contribuir para completar a reserva legal;

Redução da pressão exploratória sobre os remanescentes de matas nativas.

Desvantagens do reflorestamento

Ciclo muito longo, quando comparado com culturas tradicionais;

Como qualquer monocultura, apresenta problemas de redução da biodiversidade local;

A madeira por ser relativamente de baixo valor e elevado volume, e o custo de transporte por grandes distâncias pode inviabilizar o empreendimento;

Não apresenta viabilidade para propriedades muito reduzidas, por ocupar as áreas que seriam destinadas às culturas de subsistência.

Viabilidade da atividade florestal

O termo viabilidade pode ser analisado sob vários enfoques. Ou seja, um projeto florestal pode ser viável sob quatro aspectos principais: técnico, ambiental, social e econômico.

Técnico: viabilidade técnica significa ter condições de produzir. E isso há de sobra no Brasil, pois as espécies usadas crescem bem, existe grande disponibilidade de área, técnicos especializados, boas condições climáticas, etc.;

Ambiental: s culturas florestais apresentam alguns inconvenientes nesta área.Mas, se comparadas a outras atividades agropecuárias, os impactos ambientais são bem menores;

Social: o benefício social da cultura florestal vem da geração de empregos no setor rural e, conseqüentemente, da melhoria da qualidade de vida do proprietário e dos funcionários;

Econômico: a cultura florestal pode funcionar como uma poupança, se encarada como um capital que está crescendo em forma de madeira ou outro produto. De maneira simplificada, um empreendimento para ser economicamente viável tem que apresentar lucro;  neste caso, a cultura florestal pode ser bastante vantajosa para o proprietário, uma vez que o produto é de qualidade e o mercado garantido. A viabilidade de um projeto também é analisada pelos indicadores econômicos. Dentre eles, o lucro ou Valor Presente Líquido (VPL) e a rentabilidade ou a Taxa Interna de Retorno (TIR).

 

Valor Presente Líquido (VPL) e Taxa Interna de Retorno (TIR) para atividades agropecuárias no município de Viçosa (MG).

(Taxa de juros de 8% ao ano e valor da terra de R$ 1.500,00)

 

Cultura

VPL (US$/ha.) TIR (%)
Reflorestamento 1.686,09 8,62
Milho 884,63 5,43
Feijão 3.421,34 14,87
Café 4.703,46 15,42
Pecuária de leite 1.050,28 6,32
Pecuária de corte 823,26 5,13

(Fonte: Fontes – 2001)

Ao analisar o quadro, observa-se que o projeto que apresentou retornos mais atrativos aos proprietários rurais, pelos critérios de VPL e TIR, foi o café, mostrando-se a melhor alter­nativa de investimento para as áreas de encostas  – terço inferior e médio. Em seguida, veio a cultura do feijão, cultivado quase sempre em terrenos planos. O reflorestamento com eucalipto aparece em terceiro lugar, consis­tindo-se em uma alternativa para áreas amorreadas, impróprias para a produção de alimentos, concorrendo com pastagens, mas não com a cultura do café.

A atividade de reflorestamento realizada por proprietários rurais vem crescendo em níveis municipal, estadual e nacional. Na Zona da Mata mineira, um grande número de proprietários rurais participa de programas de fomento florestal com espécies do gênero Eucalipto, por meio do Instituto Estadual de Florestas (IEF-MG). Há também a opção por linhas de financiamento que incentivam o reflorestamento, como o Propflora, Pronaf Florestal e FNO Floresta, dentre outros.

BIBLIOGRAFIA

ARACRUZ CELULOSE S.A. Manual do cultivo do eucalipto – Programa de fomento florestal. Vitória: ARACRUZ. 16 p. (folheto).

 

DAVIS, L. S.; JOHNSON, K. N. Forest management. New York: McGraw-Hill,Inc.1987.790p.

 

FERNANDES, M. R.; VIDAL, L. S. Uso correto do solo – Terrenos onde a mata é indispensável. Belo Horizonte: EMATER-MG. 7 p. (folheto).

 

FONTES, A. A. Caracterização das propriedades rurais do município de Viçosa – MG – com ênfase na atividade florestal. Viçosa: UFV, 2001. 143 p. Dissertação (Mestrado em Ciência Florestal) – Universidade Federal de Viçosa, 2001.

Fonte: https://www2.cead.ufv.br/espacoProdutor/scripts/verArtigo.php?codigo=15&acao=exibir

25 Dicas e Idéias para sua Árvores de Natal com Material Reciclado e Reciclável

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Aqui estão reunidas vinte e cinco dicas e idéias de Árvores de Natal interessantes, feitas com materiais diferentes, que são reciclados ou recicláveis. Que você acha de mostrar o quanto você é politicamente correto e fazer sua própria árvore de Natal! Se você está cansado das mesmas árvores de plástico, feitas na China, todas iguais, então aqui está a solução de última hora para fazer uma linda árvores de Natal personalizada. Seja diferente este ano! Divirta-se criando sua obra-prima de Natal!

Confira no link: http://www.vidasustentavel.net/reciclagem/25-dicas-ideias-arvores-natal-material-reciclado-reciclavel/

Floresta recriada tem hoje mais de 100 espécies de árvores nativas

A Conferência Mundial do Clima, realizada na França, tem discutido muito o problema do desmatamento. O Brasil está no foco desse assunto. Há pouco mais de dez anos, o Globo Rural acompanhou o replantio de uma floresta inteira, feito pela mão do homem. Agora, a equipe de reportagem voltou a Mogi Guaçu, São Paulo, para verificar os resultados desse trabalho.

O Parque São Marcelo fica no município de Mogi-Guaçu, na região de Campinas, a 170 km de São Paulo. Há dez anos, a questão era plantar uma floresta. No lugar havia a plantação de mudas de espécies arbóreas. Em outra área degradada, pertencente à uma empresa de papel e celulose, tinham sido plantadas mudas para surgir uma nova mata.

“A minha experiência de áreas que eu já vi anteriormente é de 10 a 15 anos para você ter uma mata bem formada a partir de um plantio semelhante a este”, disse o agrônomo do agrônomo diretor do Instituto de Botânica de São Paulo, Luiz Mauro Barbosa, em entrevista concedida em 2004.

A palavra do agrônomo foi pega como um desafio. Depois de pouco mais de 10 anos, o Globo Rural foi conferir. “Hoje você está numa sombra de uma mata. Há dez anos, nós estávamos ao lado das mudas”, diz Barbosa.

Muitos projetos de fazer uma mata virgem fracassaram por não levar em conta duas situações: plantio de mudas no mínimo de 80 espécies diferentes, para garantir a diversidade; e dentre as mudas têm de haver as espécies primárias e as secundárias. Primárias são plantas de ciclo curto, mas de rápido crescimento. Elas vão proteger com sombra as espécies secundárias ou definitivas. As secundárias crescem lentamente, mas seu ciclo de vida é longo, contando-se às vezes por séculos.

Na mata virgem, as árvores secundárias estão quase sempre isoladas. Elas não formam colônias. Essa é uma forma de defesa. No caso de uma doença, morre um pé aqui, outro ali, sem afetar a diversidade. Nas matas plantadas, procura-se imitar a natureza. No caso da Reserva Particular do Patrimônio Natural – RPPN, foram plantadas 101 espécies diferentes de árvores, entre primárias e secundárias. Do alto é possível observar como a reserva já está bem formada.

Outro aspecto importante para a formação de uma mata é a serrapilheira, uma camada de folhas, brotos e pedaços de galhos que se deposita no solo e vai formando uma cama de matéria orgânica. Quanto maior essa camada, mais nutrientes há no solo.

A bióloga Regina Tomoko, que trabalha com o chamado sub-bosque, examinou se na floresta plantada em Mogi-Guaçu já existe presença do sub-bosque, ou seja, plantas de pequeno porte que não foram plantadas e surgiram por si. São arbustos, trepadeiras, bromélias, cipós, parasitas que aparecem em qualquer trecho de uma mata consolidada

“No espaço de alguns metros quadrados a gente já pode identificar alguns indivíduos principalmente que fazem parte do sub-bosque desse reflorestamento. Eu já posso citar uma espécie de subarbusto, que é o piper, o piper arduncum, uma espécie da mesma família da pimenta. A gente tem outro arbustinho aqui que é da família do café, que é a psicótrea, que vulgarmente também é chamado de cafezinho, que faz parte do sub-bosque da floresta”, diz a bióloga.

Quando a noite chega, é hora de uma caçada. Será que essa mata feita à mão está atraindo a fauna? As redes foram armadas no entardecer e os morcegos que enxergam pouco foram caindo. O professor Ariovaldo Pereira, que faz a pesquisa, tem a luva e o jeito de pegar morcego sem perigo. “É um morcego frugívoro, conhecido como morcego do figo. É um morcego relativamente comum, inclusive em ambientes urbanos, e é o morcego mais comum da área em que a gente se encontra aqui”, diz.

Trata-se de um morcego que se alimenta de frutas. A espécie é fica distante do vampiro, que chupa sangue e transmite raiva. Foram pegos também alguns morcegos insetívoros, também inofensivos.

Segundo o mateiro João Machado, nascido e criado pela região, foram plantadas em torno de 300 mil mudas em toda área e foram encontrados vários tipos de animais dentro da RPPN, como veado, capivara, gambá, jacu e mutum. “A gente já tem relato de pessoas que passaram na pista e avisaram que tinham visto uma onça parda. Então tem vários tipos de animais, tem os répteis, as serpentes”, conta.

O lago também ganhou mais água depois que a floresta encorpou. O agrônomo diretor do Instituto de Botânica de São Paulo Luiz Mauro Barbosa relembra que a árvore é mortal: completa seu ciclo, fenece e surge outra em seu lugar. Já a floresta é perene, a menos que haja contra ela uma violência.

Quanto à mata plantada, a cada ano estará cada vez mais vigorosa, com árvores mais altas, troncos mais grossos e com mais galhos, ramos, folhas e frutos. Mas isto não significa que seja necessário esperar cem anos para vê-la em seu esplendor. Na verdade, precisa de menos. Com vontade e meios, o ser humano pode plantar o que muitas pessoas chamam de mata virgem e, com alguns anos à frente, descansar na sua sombra ou ficar ali ouvindo o canto dos passarinhos. Pode curtir a sensação de que contribuiu com a natureza para sempre.

Segundo um levantamento do Instituto de Botânica de São Paulo, além das 101 espécies de árvores plantadas na área, foram catalogadas outras 30 que surgiram pela força da regeneração da natureza.

Link: http://g1.globo.com/natureza/noticia/2015/12/floresta-recriada-tem-hoje-mais-de-100-especies-de-arvores-nativas.html

Produtor rural constrói curral com pneus usados que suporta até 50 animais. Produtor rural constrói curral com pneus usados que suporta até 50 animais.

O produtor rural é de Campos Gerais (MG) construiu um curral utilizando apenas pneus velhos. Além de ser ecologicamente correta, a ideia trouxe economia para seu João Batista Cândido. Ao invés de usar a madeira para cercar o espaço onde o gado fica confinado, o produtor decidiu usar os pneus sem uso, que seriam descartados. A economia girou em torno de R$ 15 mil reais.

Na propriedade dele, cheia de árvores e com uma plantação de eucaliptos, ele usou apenas algumas partes de madeira para dar sustentação. Os pneus foram arrecadados depois de uma campanha feita por ele entre vizinhos e empresas. Em um mês, o produtor recolheu a quantidade suficiente de pneus velhos para dar início ao projeto.

“Jogar fora não pode, tem que reaproveitar, porque isso aqui na natureza vai demorar anos para acabar e não pode ficar jogado por ai”, disse Cândido.

Fundo Clima ajuda a recuperar o Cantareira

Por: Lucas Tolentino – Editor: Marco Moreira

Medidas de reflorestamento, produção florestal e pesquisa científica serão novas aliadas no combate à crise hídrica de São Paulo. Projeto apoiado pelo Fundo Nacional sobre Mudança do Clima (Fundo Clima), do Ministério do Meio Ambiente (MMA), promoverá a reposição de 50 mil mudas e a recuperação de 25 hectares na região do Sistema Canteira, entre outras ações. Ao todo, R$ 500 mil serão investidos.

A restauração ocorrerá em nascentes, córregos e rios nos municípios paulistas de Piracaia, Joanópolis e Nazaré Paulista. A Agência Ambiental Pick-upau é a responsável pela execução do projeto. “Há vários relatos de produtores locais de que muitas nascentes situadas nas propriedades dessas regiões estão desaparecendo”, alerta o CEO da instituição, Júlio Andrade. Segundo ele, o processo já foi iniciado em alguns pontos.

 MUDAS

A primeira pesquisa do projeto analisou um processo de mudança de recipientes entre mudas de espécies florestais. Publicado na Darwin Society Magazine, o estudo concluiu que 82% das mudas selecionadas sobreviveram à mudança de sacos plásticos para tubetes. A maioria das espécies analisadas era nativa da Mata Atlântica. Além das pesquisas científicas, o projeto prevê a restauração ecológica com 50 mil mudas de espécies arbóreas e arbustivas.

A taxa de sobrevivência é alta, na avaliação de Júlio Andrade. De acordo com ele, o método usado é agressivo, porque coloca os indivíduos em um tubo mais apertado e com menos nutrientes. Ainda assim, a maior parte das mudas sobreviveu. “Muitas vezes, o produtor precisa aumentar a produção em um espaço pequeno”, justifica. “Com a pesquisa, ele vai saber o quanto pode perder no transplante de recipiente e avaliar se é vantajoso ou não.”

Em campo, os pesquisadores constatam o empenho da comunidade local em adotar medidas sustentáveis e, com isso, contribuir para a resolução da questão hídrica em São Paulo. “Os proprietários de terras na região têm consciência ambiental e sabem que, sem água, não vão poder continuar produzindo”, constata Andrade. “Todos estão dispostos a cercar uma parte dos terrenos para fazer o plantio.”

 SAIBA MAIS

Pioneiro no apoio a pesquisas e programas de mitigação e adaptação, o Fundo Clima é um dos principais instrumentos da Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC). Com natureza contábil e vinculado ao MMA, é administrado por um comitê formado por representantes de órgãos federais, da sociedade civil, do terceiro setor, dos estados e dos municípios.

Assessoria de Comunicação Social (Ascom/MMA) – (61) 2028.1165

Trocar o Cerrado por cultivos é um péssimo negócio e não se sustenta a longo prazo

O governo brasileiro se orgulha nacional e internacionalmente de ter reduzido o desmatamento no Brasil. Apresentou um plano de metas para a conferência do clima de Paris (COP 21) no fim de novembro, que inclui redução nas emissões de gases que aquecem o planeta apostando em mais queda no desmatamento. Só que as vitórias passadas e as promessas futuras consideram apenas a Amazônia. O Cerrado, outro importante bioma brasileiro, ficou de fora. O problema é que o cerrado, que vem sendo devorado pela expansão sem cuidados da agricultura, tem grande importância para o país. Além de abrigar uma riqueza biológica única, é responsável pelas nascentes que alimentam 8 das 12 bacias hidrográficas do Brasil. Destruir o Cerrado é secar o Brasil. E matar as bases que garantem o equilíbrio ecológico para a própria agricultura. É o que explica Rafael Loyola, diretor do Laboratório de Biogeografia da Conservação, da Universidade Federal de Goiás.

ÉPOCA: Se você tivesse que explicar o que é o Cerrado e qual sua importância para um brasileiro desinformado, o que diria?
Rafael Loyola: O Cerrado é um conjunto de tipos de vegetação nativa do Brasil e extremamente rico em espécies de plantas e animais. Essa vegetação varia da florestas até campos limpos ou com rochas em grandes altitudes. Ele tem uma biodiversidade incrível, que vai desde bactérias em cavernas até plantas e animais. Além disso, ele é importantíssimo para a manutenção da água no Brasil, já que as nascentes e rios do Cerrado contribuem com 8 das 10 regiões hidrográficas que temos no Brasil.

ÉPOCA: Você diria que o Cerrado está ameaçado?
Loyola: Sim. Infelizmente, o Cerrado é o bioma mais ameaçado do Brasil hoje em dia. Isso se deve a uma combinação de pouca proteção (apenas 11% do Cerrado é coberto por reservas ou unidades de conservação, comparados com quase 50% da Amazônia) e uma alta vocação agrícola, com terrenos planos e de fácil irrigação. Isso atraiu a agricultura em grande escala e a pecuária, de maneira que milhares de hectares são desatados por ano para plantio ou criação de pastagens.

ÉPOCA: Os últimos dados disponíveis indicam que a área (em hectares) desmatada por ano no Cerrado é duas vezes maior do que na Amazônia. Por que não há uma mobilização para combater esse desmatamento do Cerrado?
Loyola: O governo federal possui um sistema de monitoramento por satélite bastante desenvolvido para a Amazônia, que vem sendo replicado para o Cerrado em menor escala. Por muito tempo a Amazônia teve mais atenção e agora o Cerrado precisa de atenção. Mas esbarramos com toda uma política de desenvolvimento agrícola para a região. Isso, na minha opinião é o maior desafio para a conservação do Cerrado – conter o desmatamento ilegal e conciliar atividades agrosilvopastoris com a conservação das águas e da biodiversidade no bioma.

ÉPOCA: O governo brasileiro vem afirmando nos últimos anos que o Brasil está vencendo a guerra contra o desmatamento usando os números da Amazônia. É correto dizer que o ritmo de  desmatamento no Brasil está caindo sem considerar o Cerrado?
Loyola: O governo se concentra na Amazônia porque tem dados muito melhores para lá, E é correto dizer que o desmatamento na Amazônia reduziu bastante, embora venha aumentando no últimos 3 anos. Mas toda essa governança na Amazônia favoreceu um processo de “vazamento” da ilegalidade para o Cerrado, onde a legislação é mais branda em termos do que pode ser desmatado. No Cerrado, especificamente, o desmatamento vem crescendo muito. Parte desse desmatamento é legal e previsto pelo novo código florestal (que permite mais desmatamento que antes), parte é ilegal e desmata mais que o permitido, justamente porque não há tanto controle.

ÉPOCA: O Brasil se propõe a reduzir emissões de carbono com a queda no desmatamento da Amazônia. Essa queda não seria em parte compensada pelas emissões do desmatamento no Cerrado?
Loyola: Seria sim. Ao traçar uma política de adaptação á mudança do clima e delinear metas para a redução de emissões é preciso considerar todos os biomas brasileiros, em especial o Cerrado e a Amazônia.

ÉPOCA: Você acha que o monitoramento de desmatamento do Cerrado hoje é adequado?
Loyola: Não. O governo federal tem um programa de monitoramento do desmatamento chamado PPCerrado (Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado), que vem sendo aplicado, mas com menos eficiência que o da amazônia. Além disso, há um problema de disponibilidade de dados. Os dados do governo são sempre atrasados em relação à dinâmica atual. Por exemplo, se você quiser os dados disponíveis e mais atuais do PPCerrado, eles são de 2011.

>> O desmatamento no Cerrado é maior do que na Amazônia

ÉPOCA: O Brasil montou um sistema exemplar de monitoramento do desmatamento da Amazônia, com satélites que geram imagens diárias, programas de computador e equipes para analisar. É possível acompanhar o ritmo de devastação mês a mês. Por que não se faz isso para o Cerrado?
Loyola: Ele faz isso, no âmbito do PPCerrado. Na minha opinião os resultados desse monitoramento só não ganham muito destaque pela pressão de outros setores, especialmente agricultura e pecuária, que vêm o Cerrado como a maior fonte de agronegócio do país.

ÉPOCA: O público em geral tem uma ideia de que o Cerrado é basicamente uma formação de gramíneas com árvores esparças baixas e retorcidas. O Cerrado tem floresta?
Loyola: Tem sim. O Cerrado talvez seja o bioma com maior tipo de formações vegetais do Brasil. Há florestas ao redor de rios (que se parecem florestas da mata atlântica), há florestas em vales entre montanhas e há inúmeras outras formações, desde campos com gramínea (que são nativos e não plantados para o gado) até campos cheios de pedras, com belezas únicas.

ÉPOCA: Qual é a importância biológica do Cerrado?
Loyola: O Cerrado é uma savana tropical, como as da África. A diferença é que não temos bichos grandes. Todos acham que a savana africana é importante, mas se esquecem do Cerrado. Aqui no Brasil, o Cerrado é tão rico em biodiversidade quanto a Amazônia ou a Mata Atlântica. Basta ver alguns números: ele possui mais de 12.000 espécies de plantas (44% exclusivas do bioma), abriga 30% da flora ameaçada do Brasil, é o lar de metade das aves do Brasil, metade dos répteis do Brasil (180 espécies, 17% exclusivas) e tem mais de mais de 200 espécies de mamíferos (10% exclusivos). É muita diversidade para uma área que já ocupou 22% do Brasil e, segundo dados oficiais, já perdeu mais de 50% da sua área.

ÉPOCA: Como você explicaria a importância das áreas de Cerrado para os mananciais que alimentam os rios brasileiros?
Loyola: O Cerrado contribui para a vazão de 8 das 12 bacias hidrográficas do Brasil, alimentando grandes rios como o São Francisco, Amazonas, Paranaíba e Araguaia. Além disso, ele mantém grandes aquíferos (especialmente o bambuí e guarani, que alimenta a bacia do paraná, maior parte dos rios de São Paulo e Goiás. Infelizmente, esses aquíferos têm cada vez
menos água e cerca de 10 pequenos rios desaparecem a cada ano no cerrado.

ÉPOCA: O Cerrado do Centro-Oeste cedeu a expansão da soja, da cana e da pecuária. Agora a nova fronteira de expansão agrícola do país é a região de Cerrado de partes do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, chamada Matopiba. Qual é o impacto ambiental dessa expansão?
Loyola: A região de Matopiba vem sendo intensamente explorada para esses cultivos, mas com um ritmo de desmatamento assustador. Até 2010, por exemplo, mais de 60% de todo o Cerrado que ocorre na Bahia já havia desaparecido. A esse ritmo, em poucos anos esse estado, por exemplo, não terá mais Cerrado nativo, ficando apenas com a Mata Atlântica. Essa expansão rápida e intensa, além disso, muda todo o regime hídrico e climático da região, com impacto profundo não só sobre a natureza, mas sobre a vida das pessoas, especialmente as mais pobres, que moram em áreas de risco de seca, queimadas, e falta d’água.

ÉPOCA: É possível conciliar a conservação do Cerrado com a agricultura brasileira? A impressão comum é que temos uma escolha: ou preservamos o Cerrado por alguma razão estética e espiritual ou plantamos comida para alimentar os brasileiros e exportar. Existe mesmo essa escolha?
Loyola: Essa escolha é um absurdo e um contra-senso. Sem natureza, sem biodiversidade, sem Cerrado nativo, não há agricultura. Não há agricultura sem o solo do Cerrado, sem a chuva e as águas da região, sem os polinizadores e os inimigos naturais das pragas. Ou seja, trocar o Cerrado por cultivos é um péssimo negócio que pode render a curto prazo, mas que não se sustenta. É típico de uma política de fronteira que exaure os recursos naturais e não permanece, trazendo mais pobreza e redução do bem-estar das populações mais pobres e necessitadas. É possível conciliar a proteção com a produção, pensando em uma agricultura com menos insumos, menos baseada em queimada e plantio e que aposta mais na melhoria da produção, que na expansão da área. Por exemplo, se a pecuária brasileira aumentasse sua produtividade de 1 cabeça de gado por hectare, para 1,5 cabeça por hectare, todas as metas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) seriam atendidas, sem necessidade de novos desmatamentos.

ÉPOCA: Existe algum bom exemplo de política ou ação para a conservação do Cerrado que não fere a economia e o progresso de uma região?
Loyola: Há inúmeros projetos de ONGs da sociedade civil que trabalham com pequenos produtores e visam uma produção mais sustentável. A Aliança da Terra é um ótimo exemplo, na minha opinião. Além disso, nós do Laboratório de Biogeografia da Conservação trabalhos em conjunto com o Centro Nacional para a Conservação da Flora (CNCFlora), vinculado ao Jardim Botânico do Rio de Janeiro, elaborando planos de ação nacionais (chamamos de PANs) para a conservação da flora do Cerrado. Nesses PANs, sempre envolvemos atores relacionados a agropecuária, mineração, hidroelétricas, assim como especialistas botânicos, gestores de parques, agentes do governo e ONGs para atacar o problema da conservação sustentável da forma mais colaborativa possível. Esse ano vamos publicar dois desses PANs: o PAN do Espinhaço Meridional, em Minas Gerias e o PAN da região de Grão Mogol e Francisco Sá, também em MG. Na semana passada não te respondi porque estava realizando, com o CNCFlora a oficina do PAN da bacia do Alto Tocantins. Esses PANs vão ajudar a salva mais de 400 espécies ameaçadas de plantas, sem ferir a economia ou o progresso dessas regiões.

 

Link: Época

Mudanças climáticas: ameaça à saúde ou oportunidade?

Chuva, sol e frio, tudo em um dia. Não costumava ser assim, dizem os mais velhos, enquanto os outros só espirram como resposta.

As mudanças climáticas têm muitas consequências, muitas, inclusive, podem interferir na nossa saúde: nós dependemos da Terra, se a Terra passa por problemas, nós também passamos.

Parece, porém, que uma parte da população não percebe o fato, assim o planeta continua passando por mudanças negativas para o ser humano. Outro dia eu respondi para uma pessoa que reclamava da alergia por conta das mudanças climáticas ao longo do dia, que isso era resultado do aquecimento global e ela riu, incrédula.

Onde estão as provas de que as mudanças climáticas afetam a saúde?  De acordo com uma reportagem do The Lancet (o jornal com maior prestígio do mundo médico), a mudança climática é uma emergência médica: poderia minar as conquistas dos últimos cinquenta anos (

Como que essas mudanças poderiam acabar com os atuais êxitos médicos? Conquistas como diminuir o número de mortes, melhorar a qualidade de vida, aumentar a expectativa de vida, podem estar, em parte, comprometidas.

Com eventos climáticos extremos se tornando comuns, como furacões, enchentes,  e até secas, o número de mortes tende a subir, além da qualidade de vida dos sobreviventes piorar, sem contar com as ondas de calor, que na Índia já mataram ao menos 500 pessoas (http://planetasustentavel.abril.com.br/blog/blog-do-clima/2015/05/25/onda-de-calor-mata-mais-de-500-na-india/ ) .

A insegurança com relação aos alimentos, a poluição do ar, diminuem a expectativa e qualidade de vida, afirmam os autores da pesquisa do Lancet. Além de consequências óbvias, como o aumento de alergias e asma.

Doenças indiretas, como câncer de pele por causa do aumento dos raios UV, câncer de pulmão, graças à poluição atmosférica das cidades, também fazem parte do rol de doenças inclusas como consequências de atitudes humanas impensadas, e que são tanto fatores da mudança climática como efeito.

Já a seca leva a um declínio na agricultura, portanto na produção de comida, e, dessa maneira, é possível ter como efeito até guerras, como no caso da Síria, que tem tido seca pelos últimos dez anos, causando fome, doenças, revoltas.

A esperança, todavia, ainda persiste, pois eles argumentam que é possível construir ‘sistemas de saúde mais resilientes’, ou seja, que podemos transformar a situação negativa em uma positiva: utilizando energia limpa (mantém o meio-ambiente livre de poluição, evitando doenças), meios de transportes mais saudáveis para nós e para a Terra (como bicicleta), investindo em pesquisas, não apenas médicas, mas em todas as ciências, inclusive as sociais, para evitar que voltemos a uma forma de vida insustentável para nós para o planeta (http://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(15)60931-X/abstract). A mudança climática é uma ameaça á saúde, mas também pode ser uma oportunidade. Depende de nós a decisão de agir eu permanecer na inércia da ameaça.

Laís Vitória Cunha de Aguiar.

Planeta tem 422 árvores para cada habitante, diz estudo

Um time de pesquisadores da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, acaba de concluir um estudo que mostra que o mundo tem 3 trilhões de árvores, ou seja, cerca de 422 para cada ser humano. A pesquisa, publicada na revista “Nature”, foi feita usando uma combinação de imagens em satélite, inventários de florestas e tecnologia e atualiza os dados sobre árvores que existiam até agora.

A única estimativa global que se conhecia dava conta de que o planeta tinha 400 bilhões de árvores, o que dava em média 61 para cada habitante. Por outro lado, há evidências de que o número total de árvores tenha caído em cerca de 46% desde o início da civilização humana.

Os dados dessa pesquisa são a chance de se ter, agora com provas reais, o impacto das atividades humanas sobre as árvores. Thomas Crowther, membro do pós-doutorado da Escola Yale de Florestas e Estudos Ambientais e coordenador do estudo, lembrou que, apesar de as árvores estarem entre os organismos mais importantes e críticos sobre a Terra, só recentemente se compreendeu a sua extensão e distribuição global.

“Elas armazenam grandes quantidades de carbono, são essenciais para o ciclo de nutrientes, de água e qualidade do ar, além de serem importantes para inúmeros serviços essenciais à humanidade. No entanto, se você perguntar às pessoas para estimar, dentro de uma ordem de magnitude, quantas árvores existem, elas não sabem nem por onde começar a contagem”, disse ele.

Os pesquisadores encontraram as maiores densidades de árvores nas florestas boreais, nas regiões subárticas da Rússia, Escandinávia e América do Norte. Mas é nos trópicos, como já se imaginava, que ficam as maiores áreas florestais: 43% das árvores do mundo.

Foi descoberto também que o clima pode ajudar a prever a densidade de árvores na maioria dos biomas. As zonas mais úmidas, por exemplo, são ideais para o crescimento delas. No entanto, os efeitos positivos da umidade não aconteceram em algumas regiões porque os humanos também preferem as áreas úmidas e produtivas para a agricultura. Nessa briga secular entre homem e natureza, a última perde de goleada.

Na verdade, a atividade humana é que determina o número de árvores em todo o mundo, disse Crowther.  O estudo destaca de que maneira as decisões de uso da terra moldaram, historicamente, os ecossistemas naturais em uma escala global. E nem sempre deram resultados financeiros.  Em resumo: o desmatamento, a mudança no uso da terra e o manejo florestal são responsáveis, ainda hoje, por um prejuízo bruto de mais de 15 bilhões de árvores a cada ano.

Aqui no Brasil, segundo um estudo divulgado ontem pela ONG Observatório do Clima (OC) (leia aqui) , o número de alertas de desmatamento na Amazônia subiu 68% entre agosto de 2014 e julho de 2015 em relação ao mesmo período entre 2013 e 2014. Somando-se o desmatamento – quando há corte raso na vegetação – e a degradação, o índice de 5.121km² de floresta destruída é o maior em seis anos, diz a análise realizada pela OC. Mato Grosso foi o estado com o maior número de alertas, somando 1.815 Km2, o equivalente a 35% do total. No Pará, foram 1.535 Km2, 29,8% do total, e em Rondônia, 769 Km2.

Mas outra pesquisa, realizada por especialistas da PUC-Rio em parceria com o instituto internacional Climate Policy Initiative e publicada no dia 17 de agosto (leia aqui) mostrou que conter o desmatamento pode ser uma tarefa bem mais difícil do que se imagina. O desafio do país, depois de conseguir coibir o corte de árvores em cerca de 80% entre 2003 e 2012, agora é tentar descobrir e reduzir o desmate em pequenas escalas, que já alcança 50% de todo o desmatamento registrado atualmente.

De acordo com Juliano Assunção, professor da PUC-Rio, um dos autores do estudo e diretor do núcleo de avaliação de políticas climáticas da universidade, os resultados mostram que houve uma mudança na natureza do fenômeno do desmatamento da Amazônia.

“O monitoramento do desmatamento feito pelo sistema Deter, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), ajudou a reduzir drasticamente a devastação a partir de 2004. Mas, quando olhamos em detalhe, vemos que o que caiu foi o desmatamento de larga escala, em áreas acima de 25 hectares. O desmatamento em áreas menores permanece em alta, com flutuações”, disse ele.

Consequência direta desse tipo de crime? A seca. Aqui no Brasil já estamos vivendo uma crise hídrica que vai aumentando ano a ano e agora alcança também a região Sudeste. Nos Estados Unidos, segundo uma reportagem na própria revista “Nature”, a California está vivendo sua pior seca desde 2012. As temperaturas estão batendo recordes históricos, o que impacta de maneira bem negativa não só os humanos mas as florestas, a biodiversidade e a economia da região. Só no ano passado já há registro de perdas de US$ 2,2 bilhões, pois  o estado é conhecido por ser um terreno fértil para frutas, vegetais e oleaginosas, que dependem de muita água. E 17 mil californianos estão fora do mercado de trabalho por conta disso, aumentando assim as estatísticas de desemprego globalmente.

Só para fazer um link com o estudo divulgado pela Yale, no Estado da Califórnia computaram a morte de mais de 12 milhões de árvores.

Sem cair no catastrofismo, mas fazendo a ligação necessária entre o corte de árvores e os fenômenos extremos, ontem (1) a Organização Meteorológica Mundial (OMM) anunciou (leia aqui) que o El Niño este ano será ainda mais forte. Vai atingir seu pico entre outubro e janeiro. São ventos que esquentam as águas do Oceano Pacífico trazendo mais chuvas para a região Sul do Brasil e muito calor para o Sudeste e Centro Oeste, além de mexer com o clima do mundo inteiro. O último El Niño tão forte aconteceu em 1998, quando as águas se aqueceram em 5 graus. Hoje elas já estão 4 graus mais quentes.

O que não se pode dizer é que a ligação entre desmatamento, seca e aquecimento global seja algo novo para a humanidade. Em fevereiro de 1979, a Organização Meteorológica Mundial concluiu em sua “Declaração da Conferência sobre o Clima” que “parece plausível que o contínuo aumento do dióxido de carbono na atmosfera pode contribuir para o aquecimento gradual… é possível que alguns efeitos em escala regional e global possam ser detectados antes do fim deste século e se tornem significantes antes da metade do próximo século”*.

Em junho de 1988, o então presidente do Instituto da Nasa para Estudos Espaciais, James Hansen, deu um depoimento sobre o senso de urgência que a questão merece. Diante do comitê de Energia e Recursos Naturais do Senado norte-americano, ele foi categórico ao afirmar que o aquecimento global não é um fenômeno natural:

“É tempo de parar de jogar conversa fora e dizer que já existem fortes evidências sobre a existência do efeito estufa”, disse ele.

De lá para cá, com a criação do Intergovernmental Panel on Climate Change (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, na sigla em inglês) nos anos 80, os estudos e pesquisas sobre o assunto ficaram cada vez mais potentes e minuciosos. O estudo feito pelo Yale sobre as árvores é um exemplo disso.  Algumas ações foram tomadas para tentar minimizar o problema, mas o tema ainda não está na agenda política, o que dificulta muita coisa.

Resta saber se quando se reunirem em dezembro na França para a vigésima primeira Conferência das Partes sobre o Clima, os 193 líderes mundiais vão seguir, finalmente, o conselho de Hansen. E tomar atitudes mais eficazes.

*Dados do “State of the World 2015”, publicado pela organização The Worldwatch Institute

Taxa de desaparecimento de florestas registra queda desde 1990

A superfície florestal no mundo continua diminuindo, mas nos últimos 25 anos a taxa de desaparecimento de bosques caiu à metade, afirma um relatório divulgado pela FAO, a Agência da ONU para a Alimentação e a Agricultura.

“Embora em escala mundial a extensão das florestas continue diminuindo, ao mesmo tempo que avançam o crescimento demográfico e a intensificação da demanda de alimentos e terras, a taxa de perda líquida de bosques caiu mais de 50% entre 1990 e 2015″, revela o documento da FAO.

O documento foi divulgado na 14ª edição do Congresso Florestal Mundial, que acontece até sexta-feira na cidade sul-africana de Durban.

Apesar da boa notícia do relatório, a superfície florestal no planeta diminuiu em 3,1% nos últimos 25 anos, passando de 4,128 bilhões a 3.999 bilhões de hectares.

Isto significa que desde 1990 o mundo perdeu 129 milhões de hectares de floresta, uma superfície equivalente ao território da África do Sul, segundo a organização.

No entanto, o ritmo de mudança registrou desaceleração de mais de 50% entre 1990 e 2015. Concretamente, a taxa anual de perda líquida de florestas (que inclui as plantações de bosques novos) passou de 0,18% nos anos 1990 a 0,08% nos últimos cinco anos.

As principais perdas aconteceram nos trópicos, em particular na América do Sul e África, mas as taxas de desaparecimento registraram fortes quedas nos últimos cinco anos, destaca o relatório.

A FAO adverte que a superfície de bosques seguirá provavelmente em queda, em especial nos trópicos, sobretudo pela atividade agrícola.

“Mas com a demanda crescente de produtos florestais e serviços ambientais, a previsão é de aumento nos próximos anos da superfície de bosques plantados”.

A evolução geral observada é “positiva, com avanços impressionantes em todas as regiões do globo”, incluindo nas florestas tropicais da América do Sul e da África, disse o diretor geral da FAO, o brasileiro José Graziano da Silva.

Mas ele advertiu que a tendência positiva deve ser consolidada.

 

Link: Globo

Dinheiro dá em árvore, sim

Um Maracanã de floresta acaba de desaparecer. Isso desde que você começou a ler este texto, há 1 segundo. Amanhã, neste mesmo horário, você levará a vida como sempre – esperamos. Mas os integrantes de 137 espécies de plantas, animais e insetos, não. Eles terão o destino que 50 mil espécies por ano têm: a extinção. Argumentos como os 15 Maracanãs de mata tropical devastados desde o início deste parágrafo – agora, 17 -, são fortes, mas nem sempre suficientes para que algo seja feito. Só que existe outro, talvez ainda mais persuasivo: dinheiro não dá em árvore, mas árvore dá dinheiro.

Hoje, manter uma floresta em pé é negócio da China. Em uma área estratégica perto do rio Yang Tsé, o governo chinês paga US$ 450 aos fazendeiros por hectare reflorestado. O objetivo é conter as enchentes que alteram o fluxo de água do rio. Equilíbrio ecológico, manutenção do ecossistema, mais espécies preservadas, esses são os objetivos do Partido Comunista Chinês? Não.

Trata-se de um investimento. O reflorestamento mantém o curso do rio estável e as árvores, sozinhas, aumentam a quantidade de chuva – as plantas liberam vapor d’água durante a fotossíntese. Resultado: mais água no Yang Tsé. O que isso tem a ver com dinheiro? A água alimenta turbinas das hidrelétricas distribuídas pelo rio – inclusive a megausina de Três Gargantas, 50% maior que Itaipu, que abriu as comportas em 2008.

Investindo em reflorestamento, os chineses agem de forma pragmática. Pagar fazendeiros = mais árvores. Mais árvores = mais água no rio. Mais água = mais energia elétrica barata (ainda mais no país que inaugura duas usinas a carvão por semana para dar conta de crescer como cresce). Mais energia barata, mais produção para a economia – e dinheiro para pagar os reflorestadores. O final dessa equação é surreal para os padrões brasileiros. A China, nação que mais polui e que mais consome matéria-prima, tem índice de desmatamento zero. Abaixo de zero, até: eles plantam mais árvores do que derrubam.

Não é só lá que as árvores valem dinheiro. No país que melhor preserva sua floresta tropical acontece a mesma coisa. É a Costa Rica. Os donos de terras de lá são pagos para manter áreas de floresta intactas. Parte do dinheiro vem de uma companhia hidrelétrica interessada em manter os rios que usa fluindo. Florestas, hidrelétricas… Só esses dois pontos já deixam claro que o Brasil tem algo a aprender. O berço da maior usina hidrelétrica inteiramente brasileira (e 3ª do mundo) fica em plena Floresta Amazônica. É Belo Monte, no rio Xingu, a 40 quilômetros da cidade de Altamira, no Pará.

A partir de 2015, ela vai servir 26 milhões de habitantes. O dado mais célebre dela é outro: os 512 km2 de floresta inundada por suas barragens. É a área de uma cidade média, toda debaixo d’água. Mesmo assim, a usina pode fazer mais bem do que mal para a mata. Pelo menos nas próximas décadas. Se seguirmos a lógica da China e da Costa Rica, faz sentido que Belo Monte pague algo pela manutenção da floresta, já que sem ela não tem chuva o bastante, e sem chuva o bastante não tem energia.

E não são só hidrelétricas que lucram com as árvores de pé, e que podem pagar para mantê-las assim. O ciclo de chuvas da Floresta Amazônica é o que garante nossas safras agrícolas – sem ele, boa parte do país seria um deserto. A ONU calcula que mesmo uma queda mínima na quantidade de chuvas que a floresta produz pode trazer prejuízos entre US$ 1 bilhão a US$ 30 bilhões para a agricultura nos arredores da Amazônia.

As estimativas são imprecisas por uma limitação da ciência: não há como saber se um tanto de desmatamento vai provocar outro tanto de bagunça no ritmo das chuvas. Mas todo mundo sabe que a relação existe. O problema é quantificá-la. Mesmo assim, faz sentido imaginar um futuro em que os produtores agrícolas paguem pela preservação de florestas como uma espécie de seguro contra a falta de chuvas.

Claro que, se ficar só na conversa, nunca vai acontecer nada. Mas um grupo de cientistas americanos deu um passo importante. Criaram um software que busca calcular com alguma precisão quanto uma área desmatada ou reflorestada pode gerar em lucros (ou prejuízos) para a economia de uma região. O nome do programa é engenhoso: InVEST (Valoração Integrada de Serviços e Compensações do Ecossistema, em inglês – haja paciência para inventar uma sigla dessas). E ele já saiu do mundo das ideias: é o software que a China usa para gerenciar o retorno de seu reflorestamento. Enquanto isso, devastamos mais 200 Maracanãs no tempo que você levou para ler este texto.